Igreja de Reis Magos é entregue restaurada e com novo museu interativo

Marco religioso e turístico de Nova Almeida abre para o público resgatando história da passagem dos jesuítas na Serra

Igreja de Reis Magos é entregue restaurada e com novo museu interativo


Texto: Marcelo Pereira - Foto: Gabriel Lordêllo/Mosaico Imagem

Após dois anos de intenso trabalho, a igreja de Reis Magos, em Nova Almeida, foi entregue totalmente restaurada e com uma novidade: um museu interativo, o Centro de Interpretação Aldeia de Reis Magos, privilegiando a história do monumento e da presença da ordem religiosa dos jesuítas no local. A inauguração é nesta quarta-feira (27), às 10h30.

 A gestão do espaço, num primeiro momento, será compartilhada entre Prefeitura da Serra e Instituto Modus Vivendi, responsável pela restauração.

Com as intervenções, a igreja se torna um dos únicos monumentos capixabas remanescentes do século XVII a serem usados como espaço cultural, turístico e devocional.

Tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), está entre os principais símbolos da presença jesuíta no Brasil.

A obra representa um investimento de R$ 10 milhões, com patrocínios do Instituto Cultural Vale, do BNDES e da EDP, além de apoio da Biancogres, todos através da Lei Federal de Incentivo à Cultura e do edital Resgatando a História, do BNDES.

Para o prefeito da Serra, Sergio Vidigal, as intervenções representam um fortalecimento tanto do resgate da memória coletiva quanto do aspecto de oportunidades de incremento na economia do lugar. 

"É um resgate importante da história da nossa cidade e mostra que a Serra faz parte da história brasileira pois a ordem jesuítica passou também por aqui. Além do aspecto histórico, enxergamos também como um grande instrumento do desenvolvimento econômico já que a cidade trabalha o turismo como uma atividade importante para o nosso município", reforçou.

Restauro

A Igreja dos Reis Magos, foi construída entre 1580 e 1615, com a ajuda dos índios tupiniquins. Passou por criterioso processo de restauro e adaptação litúrgica.

Foram restaurados o banco, os objetos litúrgicos, o retábulo, o quadro "Adoração dos Reis Magos", do pintor português Belchior Paulo, finalizado em 1701, e o púlpito.

Respeitando a história e a arquitetura também foram adquiridos mobiliários litúrgicos como a mesa do altar, o ambão, a cadeira da presidência, o tabernáculo para os Santos Óleos e o Santíssimo. Todas as peças foram confeccionadas em madeira macanaíba maciça.

As descobertas das pinturas do arco cruzeiro e do púlpito, dos douramentos do retábulo junto com o quadro restaurado trouxeram a igreja uma beleza imensurável.

Sua riqueza histórica se junta com a fé proporcionando experiência imersiva da iconografia cristã e seus mistérios. Foi realizado, também, estudo iconográfico do retábulo além do retorno da frase histórica em latim que existia no arco cruzeiro “Vidimus Stellam Eius in Oriente et venimus adorare eum”, que quer dizer: "Vimos a estrela no Oriente e viemos adorá-lo". Hoje produzida em folha de ouro.

Novidades 

A igreja, da antiga missão jesuítica, recebeu novo uso com a implantação de um museu interpretativo, além de restauros das imagens, paredes, quadro, esquadrias, piso e madeiramentos do telhado.

O projeto incluiu, ainda, café, loja, acervo de artistas capixabas, galeria para exposições temporárias, ações educativas e capacitação dos artesões para produção dos produtos para a loja.

Passou a contar, também, com acessibilidade, placas de sinalização e conteúdos traduzidos para inglês e espanhol. O trabalho de museologia e expografia deixou-o interpretativo, com papel educativo e de entretenimento.

O Centro de Interpretação Aldeia de Reis Magos foi planejado para dar ao monumento uma linguagem nova, mais comunicativa, que permitirá ao público conhecer melhor a história da passagem dos jesuítas pelo Espírito Santo e dos aldeamentos do Brasil. Desenvolvido para a antiga residência jesuítica de Reis Magos, será educativo, artístico e se manterá fiel à história da passagem dos religiosos da Companhia de Jesus, sem perder a referência das demandas do mundo moderno.

Presidente do Instituto Modus Vivendi e responsável pelo trabalho de restauro dos monumentos, Erika Kunkel destacou ainda aspectos da presença indígena na história de Reis Magos.

"Encontramos certificações do trabalho que o Iphan já tinha feito, inclusive com o trabalho de arqueologia que encontrou objetos da vivência entre jesuítas e indígenas", relembrou, citando salas em que vão ser exibidas o que ficou da passagem dos povos originários em Nova Almeida. Em uma das salas, os visitantes farão um passeio usando óculos virtuais reproduzindo um passeio de canoa indígena no século XVII.

Espaços do Museu Interpretativo

Recepção: espaço de acolhimento, a recepção traz na entrada a frase de quase cinco séculos, do criador da Companhia de Jesus, Santo Inácio de Loyola: "Se pretende consertar o mundo comece por si mesmo”. A mensagem mostra a importância da reflexão, do conhecimento e do respeito a cultura local, presentes no conceito dos Jesuítas. O espaço, com imagens antigas, arte contemporânea e sonoplastia transporta os visitantes para a história, impactando-os logo na chegada. Nesta e na sala seguinte, a do Pertencimento, a sonoplastia se destaca. Após processo de pesquisa, gravação, mixagem e masterização são exibidas três horas de músicas. O repertório reúne músicas sacras do Brasil Colonial, canções tradicionais e orações em tupi-guarani. Santo Inácio de Loyola fundou a Companhia de Jesus em 1540 para levar a palavra de Cristo aos pagãos das terras recém-descobertas e a música foi usada no trabalho com os indígenas.

Sala de Pertencimento: a sala traz o semblante do monumento refletido em pessoas de Nova Almeida por meio de fotos. Em estúdio montado no espaço foram feitas sessões de fotos, pelo fotografo Edson Chagas, incumbido de registrar a expressão de 30 pessoas com vínculo afetivo com o monumento, selecionadas por pesquisa realizada pela coordenadora do projeto e responsável pelo conceito do museu, Erika Kunkel.

“Este espaço potencializa o vínculo da comunidade com o monumento, trabalhamos para trazer sua história para o museu, além de fortalecer o pertencimento afetivo com o local. Queremos que os visitantes sintam, por meio das fotos, que o monumento é vivo, passou por gerações e se conecta com o povo”, explica Erika.

Sala da Arte Indígena: será ocupada por elementos que contam a história dos indígenas da região. Reúne objetos arqueológicos encontrados em Reis Magos e em outras aldeias capixabas.

Sala Indígena: em realidade virtual, no espaço, o visitante terá uma experiência de navegação da época da missão, nos séculos XVI e XVII. Ela traz duas canoas com cinco lugares, cada, onde os visitantes se sentam, colocam óculos de realidade virtual e são convidados a fazerem uma viagem no tempo. Em seguida, a sala escurece e uma mulher com voz marcante os apresenta aos indígenas e aos padres jesuítas, os rios e as aldeias do passado, que existiam onde hoje é Nova Almeida. Ao final do texto, ela diz: “Eu sou sua mãe, sua filha, sou a índia e sou o padre, estou em todo o lugar e perto de você, sou o fato e a lenda, sou a hipótese e o registro. Eu sou a História, aquela que sempre continua. Espero que tenham gostado, essa é uma homenagem aos nossos indígenas, nossos jesuítas e para o grande senhor 'o Tempo’”.

Espaço do Aldeamento: apresenta as missões jesuíticas, que ocuparam locais onde hoje existem cidades. Em parede de 23 metros, foram colocados nichos com reproduções das fachadas dos principais templos jesuíticos do Brasil. Elas foram confeccionadas pelo artista plástico Bruno Castelo, em terracota, matéria-prima utilizada nas confecções dos templos. Cada obra foi feita à mão, de acordo com a planta original dos templos e seguindo referências arquitetônicas originais e fotografias de cada igreja. Elas representam as missões que o Brasil teve e que séculos depois se tornaram cidades. O local terá uma mesa digital com o mapa do Brasil com marcações dos colégios e residências, das fazendas e das aldeias dos Jesuítas. Nele, os visitantes poderão clicar, localizar e ver que os religiosos foram responsáveis pela origem dessas cidades que estão de Norte a Sul do Brasil.

Sala do Patrimônio Arquitetônico: o espaço educativo traz maquete digital que apresenta a história do local, do início da missão até os dias de hoje. Também ficarão expostos elementos construtivos como uma parede de pau a pique, outra de pedra com ostra e cal, além dos únicos objetos remanescentes da antiga construção da arquitetônica. Num projetor com excelente visibilidade, em oito minutos, será contada a história de Reis Magos.

Sala dos ofícios: apresenta os ofícios dos indígenas, revelando, por exemplo, que em Reis Magos havia a maior produção de algodão entre as aldeias da região. Eles chegaram a produzir tecidos e presenteavam os visitantes com eles. Para ilustrar, foi colocado uma roca de fiar e uma rede em buriti, feita pelas mulheres indígenas, e um tipipi, instrumento onde era extraído o sumo da mandioca. No espaço tem, ainda, projeção de vídeo de uma plantação de algodão, do plantio à colheita, em forma de arte, para que os visitantes tenham a sensação de estarem imersos nela. Completando a imersão, uma obra da artista Kyria Oliveira, remete ao trabalho feito com as mãos.

Banco Casamenteiro: o Centro Interpretativo Aldeia dos Reis Magos também abriga uma lenda urbana. No segundo piso, encontra-se o Banco Casamenteiro, trazido da praça para o monumento. Reza a lenda que, durante visita de Dom Pedro II a Nova Almeida, muitos soldados que acompanhavam o Rei ficaram encantados com as moças da região. Eles namoraram essas jovens no banco, partiram, mas retornaram para se casarem com elas. Os moradores contam que desde então, quem se senta no banco é pedido ou pedida em casamento.

Espaço dos Jesuítas/Santo Inácio de Loyola: na parede do andar superior é contada a história da Companhia de Jesus, ordem religiosa fundada em 1534, liderada por Santo Inácio de Loyola. Tudo começa com a máxima dos Jesuítas: "Para a maior Glória de Deus" e finaliza com a imagem restaurada do século XVII, do Santo Inácio de Loyola. Ela fica ao fundo, num nicho feito pelo artista sacro João Rossi. Santo Inácio é exemplo da luta pela fé e pelo conhecimento.

Torre Sineira: pela primeira vez, a Torre Sineira estará aberta à visitação. No espaço há sons e textos interagindo com os visitantes, numa experiência sensorial única. Fones de ouvido estão disponibilizados para reproduzir os sons que os sinos tocavam na época, comunicando à aldeia uma variedade de eventos: dos tons fúnebres e festivos até chamadas para a missa e outros avisos importantes. Naquele tempo, o toque dos sinos era o único meio de comunicação. Ele informava sobre falecimentos, casamentos, visitas de autoridades, incêndio ou tempestade. O espaço conta, ainda, com dois textos, da professora Almerinda Lopes apresentando a Torre Sineira, sua história e importância, e do poeta e filósofo Fernando Pessoa.

Pátio: um dos principais espaços da arquitetura jesuítica, era o Pátio Central que, ao contrário do que acontecia nas outras ordens, não era chamado de claustro por ser aberto a índios e à população em geral, para aulas de catequese e outros ofícios. No Centro de Interpretação, o espaço se manteve como local principal e nele foi instalada imponente obra do escultor Vilar, denominada “O Tempo”. Ela ocupa a parte central do gramado com oito placas de granito e traz, em baixo- relevo, as constelações que orientavam os indígenas nas colheitas, pesca e plantações. A obra representa uma ampulheta moderna, com dois metros de altura. Foi inspirada nos estudos da astronomia sagrada e das coordenadas geográficas do monumento e foram estudadas e certificadas por um jesuíta do Observatório de Roma, que atestou que o monumento foi projetado para ser um relógio solar, por isso marca as horas com as sombras das colunas no chão.

Sacristia: fica na parte interna do museu para que possa ser visitada durante o dia. Nela as pessoas podem conhecer e apreciar um belíssimo arcaz e uma pia em pedra da época dos religiosos da Companhia de Jesus, entre outros. Nos horários de missa, o espaço será fechado para que o padre possa fazer uso litúrgico do local.

Acervo permanente: em exposição permanente, os monumentos trarão obras dos artistas plásticos capixabas Bruno Salvador, Luciano Feijão, Kyria Oliveira, Rosindo Torres e do renomado artista e professor, José Carlos Vilar. Os trabalhos se somarão à presença, no local, da inestimável obra do primeiro artista plástico do Brasil, o religioso jesuíta Belchior Paulo, que teve sua passagem por Reis Magos em 1596, data em que fez a pintura. A tela de grandes dimensões foi restaurada trazendo, entre outros elementos importantes, o real semblante de Nossa Senhora.

Auditório: o Centro de Interpretação conta com espaço exclusivo para ações educativas, palestras, lançamentos de livros e outros. Ela comporta 30 pessoas sentadas e está sendo entregue com cadeiras e equipamentos de sonorização. As ações educativas estarão presentes no Centro de Interpretação. Para a coordenadora do projeto, Erika Kunkel, é importante que os capixabas conheçam essa história e que o local passe a ter função educadora.

Serviço: 

Horários de funcionamento do Centro de Interpretação Aldeia de Reis Magos: 

Igreja de Reis Magos:

A Igreja de Reis Magos estará aberta todos os dias, das 9h às 17h30 a partir de 26 de junho. A abertura dos agendamentos para celebrações será divulgada pela Paróquia local.

Centro de Pertencimento:

Segunda: fechado.

Terça a domingo: das 9h30 às 17h30

Sala dos Indígenas:

Entrada somente com monitor

Horários das sessões: 10h, 10h30, 11h,14h, 14h30, 15h, 15h30,16h, 16h30.