Dia do Servidor Público: a história de Jussara Silva, uma vida dedicada ao acolhimento e à transformação

A data é comemorada tradicionalmente no dia 28 de outubro

Dia do Servidor Público: a história de Jussara Silva, uma vida dedicada ao acolhimento e à transformação


Texto: Djeisan Maria - Foto: Sâmia de Oliveira

Em setembro de 2007, Jussara Silva tomou posse como servidora efetiva da Prefeitura da Serra. Naquele tempo, ainda não existia uma Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres (Seppom) — apenas um departamento vinculado à Secretaria de Direitos Humanos, voltado ao enfrentamento da violência doméstica. O que Jussara talvez não imaginasse é que, ao assumir aquele cargo, estaria também iniciando uma das trajetórias mais marcantes da história da política pública para mulheres no município.

“Fui lotada na Secretaria de Direitos Humanos e comecei atuando na Vara de Violência Doméstica, por meio de um convênio com o Tribunal de Justiça. Eu e a psicóloga Luciana Borges formávamos a equipe técnica que atendia às mulheres vítimas de violência. Criamos o primeiro fluxo de atendimento dentro da Vara”, relembra.

Quando o convênio terminou, em 2010, Jussara voltou para a Prefeitura e passou a trabalhar na Casa Marcele, abrigo municipal que acolhia mulheres em risco de morte. Lá, viveu histórias que ainda a emocionam. “Acompanhávamos as mulheres desde o acolhimento até o momento em que conseguiam recomeçar suas vidas. Era um trabalho intenso, mas muito gratificante. Ver uma mulher reconstruindo sua história depois de tanta dor é algo que não tem preço.”

Naquele mesmo ano, foi criada a Seppom, a primeira secretaria municipal da área em todo o Espírito Santo. “Foi um marco. Passamos a estruturar os serviços, construir fluxos, definir políticas, sempre, acreditando na causa”, conta Jussara.

Dois anos depois, a secretaria se tornou permanente, e o trabalho ganhou fôlego. “A partir dali, conseguimos planejar melhor, ampliar ações, fortalecer a rede de enfrentamento à violência e dar mais visibilidade às políticas para as mulheres”, explica.

Com o tempo, vieram novas conquistas — entre elas, a ampliação da equipe, a criação de parcerias que permitiram levar as ações da secretaria até as comunidades. “Foi bonito ver o serviço crescendo e as mulheres da Serra encontrando apoio para romper o ciclo da violência”, diz com orgulho.

Entre tantas lembranças, há uma que Jussara nunca esquece: a de uma mulher que chegou gravemente ferida à Casa Abrigo. “Ele achou que tinha matado ela e foi embora. Mas ela sobreviveu. Anos depois, a encontrei completamente transformada — com trabalho, filhos crescidos, feliz. Essas histórias mostram que sempre há uma saída. É isso que me move até hoje.”

Atualmente, Jussara é chefe da Divisão de Enfrentamento à Violência contra a Mulher da Seppom. Depois de tantos anos na ponta do atendimento, ela encara a nova função com entusiasmo e gratidão. “É um aprendizado novo, e tenho o privilégio de trabalhar com uma equipe incrível”, afirma.

A servidora, que já poderia se aposentar, não pensa em parar tão cedo. “O reconhecimento das pessoas é muito gratificante. Quando vou a uma reunião e alguém me chama pelo nome, elogiando o trabalho, isso me enche de alegria. Mas o que mais me realiza é ver as mulheres bem, recomeçando suas vidas.”

Jussara fala com serenidade e fé — duas marcas de sua caminhada. “Aprendi com meus pais que o trabalho é uma bênção, não um castigo. Servir é uma forma de amar. Por isso, sempre procurei atender com respeito, cumprir meu horário, dar o meu melhor. O servidor público está aqui para servir, e servir com excelência.”

Ao olhar para trás, o que mais a orgulha é o legado que construiu. “Quero que as pessoas lembrem de mim como alguém que trabalhou com ética, com amor e com fé. Porque quando a gente ama a Deus, precisa amar o próximo — e o serviço público é, acima de tudo, uma forma de viver esse amor.